segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Volta ao Minho, dia dois

09:30 é muito cedo para mim. Quem também se orientar por um horário de trabalho de vampiro que se sente ao meu lado. Daí que me tenha sido doloroso o despertar do corpo, não tanto o da mente, quando o telemóvel chateou. (O telemóvel é uma dor no rabo, diriam os ingleses). Destino: Castelo do Neiva. Um intenso fedor a estrume recebeu-nos antes da chegada a um areal quase deserto. O exacto oposto do que foram 12 dias no Algarve. O equilíbrio desejado - dispensava era o perfume. Castelo do Neiva. Para outros lados não se podia, observou a voz da razão. A areia naquela zona é mais espessa do que aquela a que me habituei, mas nem por isso notei diferenças quanto à temperatura da água. Esperava um ataque furioso de lâminas afiadas e eis que se mergulhava sem especial dor. De passagem por casa para um almocinho light - salada e douradinhos - depressa partimos para Viana do Castelo rumo à Citroen. Para quem nunca valorizou especialmente o potencial de sedução desta empresa, aqui fica a minha sugestão: roda batida para a oficina de Viana e mãos em baixo quando se depararem com o cartaz que se encontra estrategicamente afixado na parte de dentro do vidro de um dos escritórios de atendimento, com o que interessa virado para fora. Depois fechem os olhos e sintam a coisa. Feita a revisão ao carro, seguimos viagem para uma caracolada. A ideia inicial era rumar até à casa de pasto Os Telhadinhos, em Ponte de Lima, onde a ementa nos acena com iguarias tão irresistíveis como fodinhas quentes (pataniscas de bacalhau), mentirosos (bolinhos de bacalhau que, é certo e sabido, têm mais batata do que bacalhau) e, claro, corninhos de marcha lenta (caracóis), mas ficámo-nos ali perto, por Viana, no Diplomático. A condizer com o nome, o Diplomático tem empregados extremamente correctos, mas a cozinheira fala pelos cotovelos. Quando esta reparou que a Célia, namorada do Ricardo, não estava a dar o palito à corda tantas vezes quanto isso, veio até junto de nós para saber os motivos de tamanha timidez. Até estou a comer bastante, replicou a Célia, apontando para os três ou quatro caracóis vazios que já tinha espalhado pela loiça. A Célia não gosta de caracóis. Três ou quatro era mesmo um (justificado) elogio. Deixámos o horizonte engolir o sol na companhia de dois amigos do Ricardo: o Manuel Iglesias, que lutava com muita droga previamente prescrita contra uma infecção no estômago, não podendo por isso beber durante três meses, e o amigo discreto, de aspecto nórdico, que era mesmo discreto, de modo que nada sei dele. De seguida, arroz de cabidela. Não dá para comer assim a coisa com arroz normal? Aquela pasta de sangue, só de pensar.. dá, não dá? Deu. Gente boa. Misturei-o só com o molho da carne, para não ficar tão branquinho, pelo menos, a destoar tanto. E o vinho, bem, o vinho estava divinal, como sempre, mas menos fresco, o que se nota. Alvarinho, salvo erro, tal como no jantar da última noite, já na típica localidade de Chão, Paredes de Coura, Cruzes Credo, onde tudo acaba. Antes houve copo e paleio em Viana do Castelo, num bar que eu pedi que fosse de rock e vá que tinha reggae, e olha que bem fixe, algumas horas de sono e a visita possível ao Gerês, em contra-relógio. Aviso do Ricardo: amanhã é para levantar cedo. Cedo?, desesperei. Mas, mas, cedo até que ponto?

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