Nunca soube lidar com as miúdas de quem gosto. Não foram muitas, também. Com as outras, as de ocasião, saco das cartas certas assim o momento exija. Faço bluff agora, jogo o ás de trunfo depois. É confortável. Corre bem. É um descanso.
Fitter, happier, more productive,
comfortable,
not drinking too much,
regular exercise at the gym
(3 days a week).
Com as outras, as que de facto me interessam – como aliás se pode atestar pelo maior peso da reflexão que a estas vou dedicar, por oposição às primeiras -, sou um desastre. Com as miúdas que me interessam geralmente penso, atrapalho-me e dou por mim a inventar um número para sair de cena com alguma dignidade. (Esta parte até nem costuma correr muito mal). Por vezes penso em não pensar mas depois vem-me ao pensamento que já é tarde demais. Com as miúdas que me interessam sinto o coração acelerar à velocidade com que perco a graça.
Tipo o Pantani na montanha,
ou o Bud Powell ao piano.
Com as miúdas que de facto me interessam sou dramático e sensível. O meu filme favorito deixa de ser a Laranja Mecânica ou o Voando Sobre um Ninho de Cucos e vejo-me a entrar de dedos entrelaçados com a minha amada numa daquelas comédias românticas com pouco romance e menos comédia. Aquelas que passam na televisão ao domingo à tarde, que se nos agarram à pele com visco. Já sabemos: no limite haverá ali um beijo guardado para a penúltima cena, antes de aparecer um separador com a indicação “five years later...” e surgirem várias famílias a confraternizar num barbecue sem álcool, com o plano depois a fechar na cumplicidade do enternecedor casal principal, que já tem dois filhos extremamente rebeldes no sentido católico do termo, e todos comem e sorriem no melhor dos sonhos americanos possíveis com as caçadeiras de cano duplo a arfar à entrada do alpendre. Esses filmes. Com as miúdas que realmente me interessam sou tão foleiro quanto possível e posso facilmente tornar uma canção charmosa do Sinatra num bicharoco que faria corar de orgulho a dupla romântica Miguel e André, ou Miguel & André, ou aqueles caramelos que um dia abandonaram a caixa do mini preço e se lembraram de partilhar connosco diversos temas de admirável calibre como ‘Falar de Amor (Eu preciso)’, ‘Eu Sempre te Amei’ ou ‘Toda a Vida para te Amar’. Já aconteceu. Às miúdas de quem realmente gosto nem eu me recomendava.
7 comentários:
Com as miúdas não sei, mas a encantar palavras estás que nem profissional.
Escreves que é uma coisa. só tenho é inveja.
*saudades*
eu sou distraida e desajeitada sempre. quer tenha interesse ou não. ao ponto de chamar aspirador ao ar condicionado e de partir unhas dos pés de tanto tropeçar. (in)felizmente ninguém percebe as minhas verdadeiras intenções. infelizmente, sem possibilidade alguma de parenteses no in, os resultados são:
- um maluco (ou bebedo ou as 2 coisas) a perseguir-me pelas ruas e metro de Paris, dizendo "je t'aime"
- um ressacado do adamastor a oferecer-me um cafe porque eu sou uma porreira
- cromos atraem cromos
ahaha começa a trocar os nomes propositadamente: se quiseres chamar aspirador ao ar condicionado talvez, distraída, comeces a dar-lhe o nome certo.
em todo o caso há cromos e cromos.
acabarás por tropeçar no teu.
i: só tenho é remorsos, parabéns atrasadíssimos para variar. todos os beijos.
excelente ideia :) ainda nao tinha pensado nisso. afinal vale a pena comentar os blogs que leio...
uma vez chamei geografia à manuela moura guedes, querendo dizer jornalista. no fundo, ela tem quase tanto de geografia como de jornalista.
uma vez chamei vale e azevedo à minha professora de biologia, querendo dizer pessoa-que-hesita-quando-fala-mas-sem-a-parte-de-ser-aldrabona e quase fui expulso do liceu.
no fundo, se continuar como era, ela tem isso tudo, elevado ao quadrado.
:)
uma vez presenciei o jantar de natal da "pessoa-que-hesita-quando-fala-incluindo-a-parte-de-ser-aldrabão", o próprio. ofereceu lencinhos às senhoras. ninguém conseguiu descobrir o que ofereceu aos senhores. quem me dera ter tropeçado naquele momento, de forma a cair estrategicamente em cima de um senhor e espreitar a oferenda...
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