quinta-feira, 26 de julho de 2012

Soube a pouco, Matias

El Crá : 20 golos em 115 jogos pelo Sporting

Está de saída do Sporting um dos grandes craques que passaram pelo futebol português desde que me conheço. Um número 'dez' puro, que preferia ter nas costas o mais discreto e nem por isso menos simbólico '14' - Johan Cruyff gosta disto. Daquelas chuteiras chilenas sempre destilou um perfume diferente, "coisas bonitas" nas palavras do Artur Jorge. Mati é uma espécie em desuso no futebol, o sobredotado que corre menos do que os outros e a quem os adeptos perdoam a insolência como se de um filho se tratasse, na certeza de que em breve uma traquinice os irá derreter. Ao Matias faltou sempre alguma urgência nas acções: o futebol europeu é terrível, corre-se muito, não há espaços; não poucas vezes o vimos ultrapassado pelas circunstâncias - leia-se: o advento deste futebol físico, a lei de Darwin virada do avesso, que rejeita quem bonito joga e a destruição coroa. Outro senão: as lesões musculares constantes que o afectam desde que chegou ao futebol europeu no início de 2007, concretamente ao Villareal, e condicionam o tipo de jogo que apresenta, hoje mais dado aos passes mágicos de rotura e nós cegos em espaços curtos do que propriamente em cavalgadas à Maradona como esta aqui em baixo, que em 2006 lhe valeram o prémio de melhor jogador sul-americano e que, aqui em Portugal, seriam impossíveis de acontecer - El Crá já estava a comer relva à segunda revienga.


Imagino-o a gingar entre os defesas nos anos 80, solto, talvez com o '10' nas costas, construindo uma aura de ídolo no futebol mundial. Talvez tenha nascido 20 anos depois do devido, pois nada tem de lógico que o veja trocar o Sporting Clube de Portugal pelo 13.º classificado da liga italiana, a Fiorentina, longe das provas da UEFA, de tudo o que interessa, entrando num futebol ainda mais calculista e cinzento do que o nosso. 

Florença terá um novo Príncipe e o Sporting paga a factura de atempadamente não ter renovado ou vendido o jogador, deixando-o entrar no último ano de contrato e aceitando quaisquer trocos para evitar a saída a custo zero. Assim se vê partir um craque que em três anos não ganha qualquer troféu pelo clube e que, tendo sido contratado por 3,635 milhões de euros, vai sair, ao que tudo indica, sem criar mais valia financeira - dos quatro milhões que se fala é preciso fatiar 25% dos direitos económicos que foram entretanto alienados pela nossa direcção, sabe-se lá a quem e por quanto. É mais um exemplo do modus operandi das gestões à Sporting, que deixaram o clube no estado financeiramente calamitoso em que o vemos.

Não consigo deixar de me torturar a pensar que, caso tivesse aterrado no aeroporto Sá Carneiro, há três anos, o Matias Fernández estava hoje a ser vendido para um Manchester Unitedzinho por 20 ou 30 milhões. Deve ter sido pelo menos essa a promessa que os genes lhe fizeram.

1 comentário:

Anónimo disse...

Tens toda a razão. Depois da venda do João Pereira por 3.5 (um dos melhores do Euro) agora sai outro dos que tinha verdadeira classe. O tipo a marcar livres era muito bom.
Um dos principais problemas do Sporting é que não dá valor acrescentado aos jogadores que por lá passam (salvo raras excepções tipo CR ou Nani) e muitos saem ao preço que foram comprados, fora outros que nem isso, caso do Bojinov e outras "vedetas".

Como dizia um dirigente qualquer do Sporting "esta equipa é muito cara para o 4º lugar e demasiado barata para o 1º".
Sporting, que futuro?