sexta-feira, 29 de agosto de 2008

Quem é o advogado que escreveu um best-seller #1 do New York Times?


- entrevista exclusiva a “Um Castelo na Escócia” -

Não pude deixar de recordar, um ano após ter emparedado um separador entre as páginas 32 e 33 do livro "The Innocent Man", em Florença, como o autor John Grisham duvidava da minha perícia mental a cada centímetro quadrado. Acto contínuo: fiz uma curta visita à cidade das grandes olheiras, e encontrei-me com este escritor norte-americano, responsável por um best-seller #1 do New York Times, em 2006 – assim o anunciam as costuras da obra. Do método, pretendi extrair a ciência. A entrevista em baixo publicada recolhe apenas alguns trechos do que foi uma longa e terna conversa entre amigos.

Nos últimos degraus da página inicial do teu “The Innocent Man”, deslumbras os leitores com uma ritmada e precisa visão sobre a cidade que acolhe a narrativa. Cito: “A baixa de Ada é um local mexido. Não há edifícios escondidos ou vazios na Rua Principal. Os comerciantes sobrevivem, embora muito do seu sucesso tenha sido deslocado para os subúrbios. Os cafés estão cheios ao almoço.” O que te levou a escrever um romance não-ficcional pela primeira vez, tú, amigo, cujos livros são tão conhecidos, e até comprados?
“Bem, estou sempre a rondar uma história. Ahm, estou sempre à procura de histórias, ahm, em revistas, jornais, televisão, onde quer que vá, adv... publicações de advogados; ahm, tudo o que lide com a Lei, obviamente: advogados, julgamentos, interrogatórios, litígio (...), tudo diferentes aspectos da Lei. Nunca pensei encontrar a história num obituário, e foi daí que a história de Ron Williamson (o rapaz injustiçado) veio. Ahm, 09 de Dezembro de 2004, há quase dois anos; na secção de obituários, ahm, do New York Times.”

Ron Williamson é, simultaneamente, o rapaz cujo sonho de se tornar numa estrela de beisebol pode ser destruída por advogados como o que tú eras, aos 35 anos, e aquele que depende de ti, hoje - escritor de oferta larga e peregrina procura -, com 50?
Bem, eu cresci no sul profundo, numa pequena cidade do Arkansas; região do país onde as pessoas estão tremendamente apaixonadas pela pena de morte. Não faz sentido nenhum. Ahm, mesmo como advogado eu apoiei a pena de morte, sabes, estamos tão enojados com a violência criminal que queremos combatê-la de alguma forma; quando estava a fazer pesquisa para "A Câmara de Gás", em 1993, fui ao corredor da morte várias vezes, no Mississipi. Falei com os prisioneiros, os guardas, os carrascos e, ahm, foi aí que mudei. Percebi que aquilo não era a coisa certa a fazer, e tornei-me moralmente contra a sentença de morte emitida pelos Estados.

Não seria pouca a satisfação dos nossos leitores se, por afável bondade, nos revelasses onde estaciona o paradeiro da tua admirável inspiração, tú, escritor de vendas massivas.
Quando acabei de escrever “O Corretor”, em Dezembro de 2004, não estava à procura de uma história. Acabo todos os livros por altura do Dia de Acção de Graças (feriado nacional nos EUA e Canadá, algures no Outono, em que as familias comem peru em atenção ao Criador), é o objectivo anual, o expirar do prazo, e eu realmente deslizo pelas férias. Não trabalho muito durante as férias, e de repente tinha esta história que era irresistível; quando dei por mim já o obituário praticamente coçava a superfície da trágica vida de Ron Williamson.

“The Innocent Man” denuncia, sobretudo, mas também ensina. Exemplo: “As suas mudanças de humor foram notadas desde cedo, mas nunca causaram um particular alarme. Ronnie foi simplesmente uma criança difícil, por vezes. Talvez por ser o filho mais novo, e porque tinha uma casa cheia de mulheres cercando-o de afectos”. Em que medida ser advogado afectou a tua escrita messiânica, privilégio de um dos autores mais lidos no país das grandes promessas?
Não teria escrito uma palavra se não fosse advogado. Isto não foi um sonho de criança. Não foi algo em que tenha pensado na Universidade. Chegou mais tarde na vida, ahm, e se eu não tivesse sido inspirado por histórias que tivesse visto, rondado ou ouvido, como advogado, não teria inspiração para escrever. As histórias vieram primeiro. A Lei foi crucial, e ainda o é.

Certa crítica acusa a tua escrita de ter por Lei o esganar da imaginação alheia; corte a foice, desde o Arkansas às mais belas cidades italianas.
O livro vende, por isso vou mantê-la assim (sorri).

1 comentário:

i disse...

estás contratado!!