"The only people for me are the mad ones, the ones who are mad to live, mad to talk, mad to be saved, desirous of everything at the same time, the ones who never yawn or say a commonplace thing but burn, burn, burn like fabulous yellow roman candles exploding like spiders across the stars." J. Kerouac
quarta-feira, 29 de abril de 2009
nenuco
a única dor no rabo dos 27 é não os ter para sempre - embora o morrison, a janis e companhia pudessem ter uma ou duas coisas a dizer sobre isso; porta-te bem, reflecte sobre os passarinhos que voam e até já.
segunda-feira, 27 de abril de 2009
There's more to the picture, than meets the eye
quinta-feira, 23 de abril de 2009
A valsa de Don Andrés e restante orquestra catalã
Coleccionar inúmeras alegriazinhas de modo a poder celebrar três grandes farras, Taça do Rei, Campeonato Espanhol e Liga dos Campeões, pode muito bem ser o destino do Barcelona, equipa de seda condenada a escrever nesta época uma história sem igual. «Isto é demasiado bonito para que se detenha. Temos pela frente algo maravilhoso para viver», disse o técnico dos catalães, Pep Guardiola, após golear esta noite o Sevilha por 4-0 na 32.ª jornada da Liga doméstica - ah!, com o Messi de fora. Soubesse o ex-médio que as coisas iam correr assim – bilhete para a final da Taça, líderança do campeonato com seis pontos de avanço e todos os recordes de vitórias, pontos e golos à mercê, e presença nas meias-finais da ‘Champions’ - e talvez, com o capital de que goza no clube, tivesse entrado mais cedo nisto de treinar o belíssimo Barça.
Afinal, é apenas a época de estreia do Guardiola no banco de suplentes, dirigindo uma equipa, e, de preocupações, apenas ganhou uma: pedir aos seus jogadores que reentrem em campo com o mesmo apetite com que o deixaram, ao intervalo, invariavelmente a uma distância já inalcançável do adversário. Gosto de futebol. Mesmo. E, felizmente, dá-me para rir quando leio alguma imprensa espanhola desvalorizar os sucessivos correctivos que o Barça infringe nos seus adversários espanhóis, Sp. Gijón, Atlético de Madrid, Almería, Málaga, Valladolid, Sevilha, Valência, Deportivo e Numancia, é à vez, 9 equipas já foram goleadas num total de 19, com seis jogos por disputar, sob o argumento de que estes olham para o jogo seguinte - o Real Madrid apanha as sobras do Barcelona -, deixando-se ganhar.
Conheço-o bem: vem do mesmo saco onde se vai buscar outro - “Ah, eles só correm contra nós” -, acenado para justificar desaires pelos que nunca se enganam e raramente têm dúvidas. No admirável mundo ‘blaugrana’, entre outros, podemos encontrar o melhor jogador do mundo: o Messi. Só falta oficializar. Depois, num grupo de quatro ou cinco com talento que sobra para rivalizar pelo estatuto que, por certo, o argentino roubará ao Cristiano Ronaldo na próxima gala da FIFA, mora um dos meus jogadores preferidos de sempre, o Xavi, e também o Iniesta, espécie de irmão mais novo daquele. Aos dois minutos do jogo com o Sevilha já Don Andrés tinha incendiado o Camp Nou com um golo perfeito. Depois entregou de bandeja os outros três.
Li por aí alguém chamar-lhe o “génio generoso”. E também me parece, abrindo o plano, que, por estes meses, ser adepto do Barcelona deve ser tão aborrecido como ir a um concerto do Kusturica com os No Smoking Orchestra ou ser o escravo sexual da Rachel Weisz.
quarta-feira, 22 de abril de 2009
É sempre de ouvir em repeat #20
Banda: Moriarty
Disco: Whiz But This Is a Lonesome Town
Data: 2007
Os franceses Moriarty são o que queriam ser quando fossem grandes. Vivem num comboio rural imaginário, em trânsito entre Nova Iorque, Paris e Nova Iorque, e passam o tempo a tocar canções primaveris, acústicas, sempre deitando a mão a essas talentosas cigarras que alguém um dia chamou de harmónicas. Tudo sereno, à medida do instrumento que lidera o quinteto: a voz de Rosemary, que é de veludo. Há um par de EP'S. Disco, disco, apenas um: Whiz But This Is a Lonesome Town (2007), cujo alinhamento abre com esta 'Jimmy'. Dá lá para ignorar a canção do búfalo?
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segunda-feira, 20 de abril de 2009
O carnaval dos Balcãs contra-ataca
Sem qualquer trabalho editado desde Time of The Gypsies (2007), a banda liderada por Nenad Janković, aka Dr. Nele Karajlić, que inclui o premiado realizador Emir Kusturica desde 1994, revisitou quase 30 anos de carreira com a descontracção que em solo nacional se pode conceder aos intocáveis Xutos & Pontapés. Talvez por isso, meia hora de atraso não tivesse sido motivo suficente para atrapalhar a boa disposição do público que ontem quase lotou o Campo Pequeno, onde já mora um tecto - e ainda bem, Abril.
Um pouco mais do que música
O menu musical era conhecido: um caldeirão de sonoridades tradicionais dos Balcãs, com evidentes influências da cultura cigana, onde se percorre os caminhos do punk, folk e jazz pelo manejo frenético de muita corda e muito sopro. Frequentemente, com passagens pelas raízes da música popular grega e turca – o longo domínio otomano no sudeste europeu assim o justifica. Êxitos como ‘Unza Unza Time’, ‘Bubamara’, ‘Pitbull Terrier’ e ‘Fuck You, MTV’, logo transposto para o menos consensual 'Fuck You, USA', foram entoados (e dançados) como se disso dependesse a salvação de cada um.
Mas a música da banda é apenas um ponto de chegada para onde corre, ou dança, uma narrativa que conhecemos em filmes de Kusturica como Underground (1995) e Gato Preto, Gato Branco (1998), cujas bandas sonoras foram compostas – e ontem amplamente recuperadas – pelos No Smoking Orchestra, originalmente intitulados Zabranjeno Pušenje. Não surpreende, por isso, que o inesgotável Nele Karajlic – apresentou-se vestindo um maillot azul com asas de morcego – incentivasse diversas invasões de palco, onde a distracção circense e as míudas giras mereceram o devido valor.
(Cinquenta anos de pele bonita para quem me encontrar)
Kusturica, sempre discreto, foi apresentado como Eric Clapton e Maradona, e abriu canções com os mui conhecidos riffs de 'Smoke on the Water' (Deep Purple) e 'Shine On You Crazy Diamond' (Pink Floyd). 100 minutos e um encore depois já se ouvia o hino soviético – banda sonora de cada fecho e começo de um concerto da banda. E apostamos: terá sido por metros constrangimentos logísticos que não foi visto um porco em palco a tratar de um carro podre à dentada. Mas haverá tempo para isso.
Créditos: a Rita Carmo é de longe a maior
quinta-feira, 16 de abril de 2009
É sempre de ouvir em repeat #19
Banda: LCD Soundystem
Disco: Sound of Silver
Data: 2007
Para uns já se fazia tarde, outros notaram estar de chuva, e aqueles houve que sublinharam ser terça-feira, esse dia de sacro descanso segundo os bons costumes do calendário ocidental, ou civilizado. Certo que já me tinham telefonado, enviado mensagens por telemóvel, facebook e hi5. Até a superbock me apertou os calos virtuais. Houve também quem me cantasse os parabéns de pijama à volta de um bolinho de alfarroba (era de alfarroba?) made in starbucks (era do starbucks?), oferecesse entrevistas fictícias em papel cor de laranja e discos de folk balcânico, mesmo a jeito para enfrentar a praça de Espanha depois de almoço. Tudo isso está muito bem, delicioso, kutxi kutxi; mas deixarem-me em casa na noite dos meus 62 anos devia ser crime punível até duas semanas de férias na costa da Somália.
terça-feira, 14 de abril de 2009
É sempre de ouvir em repeat #18
Intérprete: Neko Case
Disco: Middle Cyclone
Data: 2009
A Neko Case estava tão cansada enquanto compunha um dos temas do novo disco, Middle Cyclone, que quis ser a lua, e escreveu-o.
É a voz dos New Pornographers, de novo a solo, estrebuchando um certo tipo de criatividade à qual se torna difícil de resistir para aqueles que já sairam do bairro, atraídos pela novidade. Com alguma bondade, pensem na Ana Bacalhau, dos Deolinda: como ela, a Neko parte de um imaginário sonoro tradicional - o country, no caso -, coisa de pele, verdadeira, e em cima desse chão constrói uma outra, com uma linguagem nova, a sua, exponenciada pelo uso de um instrumento espantoso, invariavelmente disponível – a voz. Precisando, compõe música country como sempre desejámos que esta soasse, à semelhança do que a Ana Bacalhau e restantes Deolinda fizeram ao fado. Voz e letra, dá 30-0 a demasiada gente por aí.
Escolhi para repeat o primeiro single, mas podia ser qualquer outra faixa. A-na-ni-a-na-não - Middle Cyclone é assunto sério.
sexta-feira, 10 de abril de 2009
É sempre de ouvir em repeat #17
Banda: The Smiths
Disco: The Queen is Dead
Data: 1986
Take me out tonight
Where there's music and there's people
And they're young and alive
terça-feira, 7 de abril de 2009
Mayra
Comecei a ouvir merengues angolanos (baseados nos dominicanos) desde puto. Entendia ser essa a música ambiente quando via a minha mãe fazer coisas estranhas com as mãos e pernas e o meu pai serpentear a cintura, enquanto espreitava a dela. Tudo bem, achava, fugindo feito lebre da pista de dança dos encontros anuais de lobitangas (naturais do Lobito), em Tomar, e dos casamentos dos filhos dos amigos dos meus pais, frequentemente rumo à bola que saltasse mais perto; entretanto ganhei-lhe piada, ao merengue, e nalguns casos extremamente específicos até posso entoar uns zurros de asno com cio enquanto oiço o Waldermar Bastos de guitarra em punho a chamar pela Georgina - "Fui no Rocha Pinto ué/Fui no Casaquele/Cheguei na Corimba, Palanca no prenda, e nada/Ai Georgina ié mama, meu amor ué."
Tudo isso me faz bem, mas o meu sangue pseudo-africano sempre correu mais rápido ao ritmo das mornas pachorrentas e do semba, com o batuque em ligação directa à terra, ao chão. Afinal, sou o forasteiro da família, e natural será que o corpo responda de outra forma.
O Dany Silva explicá-lo-á melhor do que eu. O Bonga também.
Por isso fui varrido de paixão quando um dia ouvi a voz quente e levemente suja da Mayra Andrade – cabo-verdiana nascida em Cuba que cresceu no Senegal, Angola e Alemanha, para agora viver em França, deslumbrante, uma força da natureza, um petardo rebentado no céu; ca-bum!, fez-se Mayra. Egoísta, também, como se tivesse concentrado em si toda a beleza. Que a tem como já não se usa.
Se algum dia for pai, chamo o meu puto à sala, mostro-lhe uma foto dela, ponho a tocar o disco “Navega” (2006) e digo-lhe: “Vês, baixinho, assim se explica que os homens façam coisas muito tontas pelas mulheres”. Se for menina, bem, acho que mostrarei a mesma foto. Li algures que compará-la com a Cesária Évora é redutor. Também achei que fosse assim.
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sábado, 4 de abril de 2009
Carta aberta ao Sr. Eastwood (onde consta um ou outro spoiler sobre o Gran Torino)
Caro Clint,
Ainda não tinha entrado o primeiro plano do filme e já o teu piano me tocava um destino irremediável: sairia do Monumental feito um traste. Sobreviveria, porém, tem sido assim. Mas só hoje, um dia depois de ter visto o Gran Torino, entendi porque raio tive tanta dificuldade em conter os soluços no final. (Bem, e ouvir-te cantar, também – mais alguém se lembrou do Tom Waits no seu estado mais arruinado? -, pena que não me deixes publicar aqui a versão completa da canção que nos desfaz nos créditos finais, fica o Jamie com os louros).
Da próxima vez que filmares a tua morte chateamo-nos a sério. Morte a abrir um filme e a fechá-lo é coisa triste. Morte a abrir um filme e a fechá-lo, contigo deitado num caixão, muito quietinho e direito, é inadmissível. Dois pontos a menos.
Não me interpretes mal: a história inteira do cinema cabe e manifesta-se num filme teu. Há diálogos quase tão sussurrados como a tua fatia do tema-título. Bonnie and Clyde, hein? Mas estás proibido de repetir aquilo dos caixões. É maldoso. Ficamos com receio de que não sejas para sempre. Tens de ser para sempre. Continuar. Ser mais vezes o mau da fita e com isso fazer as pessoas rir muito. Ninguém rosna daquela forma. Humor de cão devia rimar com Eastwood. Com uma coisa sei eu que rima: trabalho. Mantém esse hábito de não achares, talvez despropositadamente, que o mundo te deve alguma coisa. É um bom princípio.
Ah!, quase me esquecia: belo carro.
Atenciosamente, R.C.