Sem qualquer trabalho editado desde Time of The Gypsies (2007), a banda liderada por Nenad Janković, aka Dr. Nele Karajlić, que inclui o premiado realizador Emir Kusturica desde 1994, revisitou quase 30 anos de carreira com a descontracção que em solo nacional se pode conceder aos intocáveis Xutos & Pontapés. Talvez por isso, meia hora de atraso não tivesse sido motivo suficente para atrapalhar a boa disposição do público que ontem quase lotou o Campo Pequeno, onde já mora um tecto - e ainda bem, Abril.
Um pouco mais do que música
O menu musical era conhecido: um caldeirão de sonoridades tradicionais dos Balcãs, com evidentes influências da cultura cigana, onde se percorre os caminhos do punk, folk e jazz pelo manejo frenético de muita corda e muito sopro. Frequentemente, com passagens pelas raízes da música popular grega e turca – o longo domínio otomano no sudeste europeu assim o justifica. Êxitos como ‘Unza Unza Time’, ‘Bubamara’, ‘Pitbull Terrier’ e ‘Fuck You, MTV’, logo transposto para o menos consensual 'Fuck You, USA', foram entoados (e dançados) como se disso dependesse a salvação de cada um.
Mas a música da banda é apenas um ponto de chegada para onde corre, ou dança, uma narrativa que conhecemos em filmes de Kusturica como Underground (1995) e Gato Preto, Gato Branco (1998), cujas bandas sonoras foram compostas – e ontem amplamente recuperadas – pelos No Smoking Orchestra, originalmente intitulados Zabranjeno Pušenje. Não surpreende, por isso, que o inesgotável Nele Karajlic – apresentou-se vestindo um maillot azul com asas de morcego – incentivasse diversas invasões de palco, onde a distracção circense e as míudas giras mereceram o devido valor.
(Cinquenta anos de pele bonita para quem me encontrar)
Kusturica, sempre discreto, foi apresentado como Eric Clapton e Maradona, e abriu canções com os mui conhecidos riffs de 'Smoke on the Water' (Deep Purple) e 'Shine On You Crazy Diamond' (Pink Floyd). 100 minutos e um encore depois já se ouvia o hino soviético – banda sonora de cada fecho e começo de um concerto da banda. E apostamos: terá sido por metros constrangimentos logísticos que não foi visto um porco em palco a tratar de um carro podre à dentada. Mas haverá tempo para isso.
Créditos: a Rita Carmo é de longe a maior
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