Caro Clint,
Ainda não tinha entrado o primeiro plano do filme e já o teu piano me tocava um destino irremediável: sairia do Monumental feito um traste. Sobreviveria, porém, tem sido assim. Mas só hoje, um dia depois de ter visto o Gran Torino, entendi porque raio tive tanta dificuldade em conter os soluços no final. (Bem, e ouvir-te cantar, também – mais alguém se lembrou do Tom Waits no seu estado mais arruinado? -, pena que não me deixes publicar aqui a versão completa da canção que nos desfaz nos créditos finais, fica o Jamie com os louros).
Da próxima vez que filmares a tua morte chateamo-nos a sério. Morte a abrir um filme e a fechá-lo é coisa triste. Morte a abrir um filme e a fechá-lo, contigo deitado num caixão, muito quietinho e direito, é inadmissível. Dois pontos a menos.
Não me interpretes mal: a história inteira do cinema cabe e manifesta-se num filme teu. Há diálogos quase tão sussurrados como a tua fatia do tema-título. Bonnie and Clyde, hein? Mas estás proibido de repetir aquilo dos caixões. É maldoso. Ficamos com receio de que não sejas para sempre. Tens de ser para sempre. Continuar. Ser mais vezes o mau da fita e com isso fazer as pessoas rir muito. Ninguém rosna daquela forma. Humor de cão devia rimar com Eastwood. Com uma coisa sei eu que rima: trabalho. Mantém esse hábito de não achares, talvez despropositadamente, que o mundo te deve alguma coisa. É um bom princípio.
Ah!, quase me esquecia: belo carro.
Atenciosamente, R.C.
2 comentários:
não resisti a ler apesar de ainda não ter visto o filme. tentarei escrever uma carta dessas qualquer dia.
Pat, se me tiveres a ler: este é que é o que eu gosto, o Jamie Cullum
Brilhante! =P
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