"The only people for me are the mad ones, the ones who are mad to live, mad to talk, mad to be saved, desirous of everything at the same time, the ones who never yawn or say a commonplace thing but burn, burn, burn like fabulous yellow roman candles exploding like spiders across the stars." J. Kerouac
quinta-feira, 30 de julho de 2009
É sempre de ouvir em repeat (nas fériaaaaaaaasssss) # 39 e 40
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(onde se prova que isso do wally ser um desenho inanimado é letra - firme e hirto no post de baixo; aqui aos pulinhos)
terça-feira, 28 de julho de 2009
FMM: vinte horas no paraíso
Melech Mechaya, depois de tostar na praia
Bibi Tanga & The Selenites, antes de jantar
James Blood Ulmer, depois de jantar
Morninho, a malta queria era parvoíce, não leves a mal.Jazz e heavy-metal a copular como dois coelhos famintos.
Lee 'Scratch' Perry, todo fora
Speed Caravan, "Onde é que 'tás?; "'Tou aqui!"
Se dúvidas houvesse de que Sines é uma espécie de Meca.
Banho de créditos: Mário Pires
sexta-feira, 24 de julho de 2009
terça-feira, 21 de julho de 2009
Quem quer viajar entre Lagos e Alvor num colchão de brincar?
Por ter feito anos durante a semana, festejando-os derrubado na cama depois de ter partilhado demasiadas garrafas de rosé com um cliente na véspera, o Nelas convidou a malta para um sábado na vivenda dele, a partir das 13:30. Menu para curar ressaca: piscina, grelhados, minis e mojitos. No que me toca, tinha marcada uma caracolada com o meu irmão para o final dessa tarde, pelo que apostei na primeira e nos últimos, não necessariamente por esta ordem. A noite anterior fora longa, começando numa prova de vinhos que nos custou três euros e acabando a dispersar de uma discoteca em ladies night logo após dois caramelos terem andando à pancada porque um cortejou a matulona que o outro cercara primeiro. Há um acordo tácito nisto da rapinagem em pista de dança: ninguém ataca a mesma 'presa'. O ar pode ser de todos, mas a matulona é minha, reclama aquele que primeiro se insinuar. Não perguntem.
quarta-feira, 15 de julho de 2009
Vinte segundos
segunda-feira, 13 de julho de 2009
Um rascunho sobre o Alive!09
9 de Julho
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Silversun Pickups: Aposto duas minis como a baixista é mãe de três filhos a caminho dos seis, vai à missa ao domingo e no final do dia ouve Smashing Pumpkins às escondidas.
Delphic: Nada mau para quem lançou um single.
Air Traffic: Bah.
Tv On The Radio: Banda mais cool do festival?
Klaxons: Eles próprios nem queriam acreditar no festim que desencadearam.
Crystal Castles: A Amy Whinehouse é uma menina de coro ao pé da Alice Glass.
Metallica: A primeira vez é sempre aquela base de dados.
Créditos: Rita Carmo
10 de Julho
(despachado.)
11 de Julho
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A Silent Film: A música mais bonitinha, assim ao lado da 'Crash into me' (DMB)?
Ayo: Reggae na voz que o Michael Jackson tinha quando cantava com os irmãos.
Los Campesinos!: Espero que alguém tenha tido o bom senso de filmar alguma parte do concerto e publicá-la na net. Eu não tive.
Chris Cornell: Vá lá que deixaste o Timbaland no estúdio...
Black Eyed Peas: Também gostamos muito de ti, Fergie.
Autokratz: E aqui o lampadinha a perder tempo com Black Eyed Peas!
Likke Li: Que ninguém ensine a uma sueca como se fazem canções pop. Podem é ligar à Everything is New e explicar-lhes uma ou duas coisas sobre alinhamentos de bandas em festivais de música.
Dave Matthews Band: O concerto do festival? Não tocaram foi a 'Bartender', sacanas. Não cabia lá em quase três horas?
Créditos: Rita Carmo
Menção especial aos Homens da Luta - E o povo, pá?
quarta-feira, 8 de julho de 2009
Adeus Amélie
Na verdade, sendo mais preciso, a linguagem musical ontem privilegiada no Centro Cultural de Belém (CCB), em Lisboa, no encerramento de uma mini-digressão que passou por Figueira da Foz e Famalicão, vem sendo cada vez mais utilizada nas actuações ao vivo do músico. Ainda que de formação clássica em piano e violino, Yann Tiersen integrou vários grupos rock na sua juventude. Dust Lane, disco a editar no final do ano que serviu de mote ao concerto no CCB, é, 14 anos depois do trabalho de estreia, La Valse des Monstres (1995), o registo que devolve o compositor às descargas eléctricas.
Para trás ficam as paisagens melancólicas dedilhadas ao piano, ou abraçadas ao acordeão. Por outras palavras: toda uma reputação.
O violino, esse, ainda estrebucha, aqui e ali, mas nas poucas vezes em que o músico dele se apoderou - sensivelmente as mesmas em que deu uso à sua voz sofrível - foi para o utilizar como instrumento de ataque a canções de rock experimental, não para fazer soluçar os espectadores. Atentos como estátuas, aqueles pareceram surpreendidos ao testemunhar o novo rumo que Yann deu à sua carreira - qualquer coisa de que os Sonic Youth ficariam orgulhosos.
"Toca a Amélie!"
À cerca de hora e meia de actuação faltaram praticamente todos os hinos do autor de Rue des Cascades (1996), pelo que melhor será falar no que o quarteto que o acompanhou não esqueceu. Junto de Stephane Bouvier (baixo), Dave Collingwood (bateria), Christine Ott (teclas e o psicadélico ondas Martenot, um instrumento electrónico dos anos 30), e Robin Allender (guitarra), Yann (voz, guitarra e violino) espantou a assistência mais desprevenida com o ruidoso bloco de cinco primeiras canções do alinhamento.
Desconhecidas, decerto ficarão associadas a quem de direito assim que Dust Lane estiver disponível nas lojas.
Na recta final da quinta faixa entrou em acção o aguardado violino. Prenúncio de regresso ao último disco de estúdio, Les Retrouvailles (2005), ou até do seu mais recente trabalho, Tabarly (2008) - terceira banda sonora para filme assinada por Yann Tiersen?
Nem por isso. O violinista de formação clássica só se mostrou como tal a sensivelmente meio do concerto, numa versão do tema originalmente escrito para piano, 'Sur le Fil', do albúm Le Phare (1998) - mais tarde aproveitado n'O Fabuloso destino de Amélie.
Descabelado como se pede a um artista indie, avançado um passo, recuando dois, esquerda, direita e de novo esquerda, inquieto, Yann ofereceu ao público um solo arrepiante. Este devolveu-lhe a ovação da noite. Dali em diante, cada vez mais intensas, as descargas eléctricas comandaram canções de queda livre, esporadicamente cantadas por todos os músicos, excepto o baterista.
"You fucking rock!", ouviu-se da assistência.
Tímido - há coisas que nunca mudam -, Tiersen deixou-se ouvir apenas três vezes entre músicas. Nunca foi além de um imperceptível "obrigado" de olhos fixos nos pés. Também poucos esperariam que cuspisse fogo pela boca.
Aguardava o público, isso sim, por, enfim, ouvir os arranjos originais de uma das bandas sonoras de culto da década. "Toca a Amélie!", suplicou alguém, quase para dentro, com o tom de voz conformado de quem sabia que esse pedido não seria satisfeito.
Mas foi precisamente com o tema 'La Valse d'Amélie', ainda que atacado com arranjos de guitarra distorcida, que Yann Tiersen fechou uma actuação curta, de alto risco, mas conseguida. O legado rock do músico bretão contrói-se dentro de momentos.
segunda-feira, 6 de julho de 2009
A menina dança?
Omar S
Este daqui chama-se Omar S, trabalha na Ford de dia e de noite faz por ser um dos nomes com maior eco na prolífica cena house/techno de Detroid, berço de tudo o que cheira a pista de dança. Verdadeiro artesão, Omar S edita pela FXHE, que é sua, e no último volume da compilação Fabric utilizou apenas temas seus. Foi o segundo cabecinha a fazê-lo. O primeiro foi um tal de Ricardo Villalobos. Omar S também é o caramelo que ficou conhecido por dizer que não o conhecia. Faz nascer blocos sonoros rudes e aliás sólidos como a paisagem industrial de Detroid. Como o seu carácter. Parafraseando o poeta, tá-se cagando para tudo o que mexe. Esteve no (na?) Lux a 20 de Março, entretanto já lançou outro disco, Just Ask the Lonely, e a pergunta que se impõe é esta: onde é que nós estávamos a 20 de Março?
A ouvir: Set it Out
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Golden Silvers
Dei com o single de estreia deste trio we-are-seventies há uns meses, logo com vídeo e tudo, mas deixei passar a caravana. Achei piada, mas não ladrei. Agora já o quero, muito, depois de me ter assaltado os tímpanos vezes sem conta. Amigo de pés dançáveis, o single vem integrado no disco de estreia com o mesmo nome, que resulta assim num todo mui funky-disco, com um sintetizador a comandar canções luxuriantes, sem olhar para trás, de bem com a vida.
A ouvir: True Romance
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Passion Pit
Os norte-americanos Passion Pit são aquele grupo de rapazes extremamente amiguinhos que costuma acampar junto ao espelho do Incógnito, assim que descemos as escadas. Quando não estão aos melos, produzem do melhor som que este Verão vai dar a conhecer, como prova o disco de estreia, Manners, sucessor do EP Chunk of Change.
A ouvir: The Reeling
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(Aqui o primata deixou-se ficar num profundo sono pelo que alguém tem de promover a comunidade. Há coisas a acontecer. Boas.)
sexta-feira, 3 de julho de 2009
«A Maria Bethânia foi um alívio...»
Quanda nos fala, com o Tejo a anunciar-se no horizonte, Vanessa da Mata parece não querer magoar as palavras. É delicada a esse ponto. Os olhos, duas castanhas perfeitas, também nos fitam meigos. Desarmam o mais prevenido. Entra num vestido de mil e uma cores. As mesmas do sorriso. Se a isto juntarmos os traços indígenas – herdou-os da avó materna – e a farta cabeleira de caracóis livres, está preparado um verdadeiro desafio para o entrevistador: além de prestar total atenção à entrevistada, deverá, efectivamente, não perder de vista o que ela diz.
Neste plano, a cantora de ‘Ai, Ai, Ai’ facilita-nos a vida logo que empreende o seu primeiro raciocínio. E é naturalmente sem travões que fala sobre Paraty, a pequena e isolada cidade do sul do estado do Rio de Janeiro que serviu de cenário ao seu mais recente trabalho, “Multishow ao Vivo”, um CD/DVD que já está nas lojas.
“Queria um lugar bonito, com arquitectura bonita, sair das salas de espectáculos. Todos os DVD são filmados ali, da mesma forma, produzidos para parecerem um sucesso. A minha ideia era que este fosse um momento poético, que tivesse intimidade, espontaneidade”. Ao escolher Paraty, longe do aparato mediático, Vanessa sabia para onde ia – e para o que ia. Desconfiada ao início, a editora cedeu.
“Não tivemos tantos fãs como gostaríamos – as pessoas não conseguiam, era muito longe, a quatro horas de cada cidade. Mesmo assim tivemos outras pessoas: um padre, crianças na sombra dos pais que jamais poderiam entrar numa casa de espectáculos, namorados beijando-se, tinha de tudo. Isso agradou-me muito”, observa, valorizando o que foi ganho.
Com “muito dinheiro nele investido”, o concerto de Paraty justificou um profundo trabalho de rectaguarda. A cantora liderou a criação do cenário, do guarda-roupa, da decoração, e também dos rearranjos das canções. Fê-lo, por exemplo, em ‘Não me Deixe Só’, ‘Ainda Bem’ e ‘Viagem’, três dos 24 temas que compõem o alinhamento do DVD – contém imagens do concerto da cantora no Festival Sudoeste TMN em 2008 -, onde são revisitados os seus três álbuns de estúdio. Mais curto é o alinhamento do disco: 14 músicas. Novidades no repertório habitual, são três: ‘Acode’, escrita por Vanessa da Mata, e os clássicos ‘As Rosas Não Falam’ (Cartola) e ‘Um Dia, Um Adeus’ (Guilherme Arantes). Dois ‘cozinheiros’ especiais também integraram o preparo deste menu: o baterista Sly Dunbar e o baixista Robbie Shakespeare, lendária dupla jamaicana de reggae que Vanessa da Mata convidou para acompanhá-la no concerto de Paraty. A releitura de músicas já feitas, quer pelos arranjos, quer pelas parcerias, levou-nos à pergunta, “uma canção é uma obra inacabada?”
Resposta: “Já começo a sentir uma necessidade de vestir roupas novas nas pessoas e em mim, já faço isso automaticamente nos espectáculos, é uma necessidade minha a de não ser automática com a música. Se eu cantar ‘Ai, Ai, Ai’, a chuva será completamente diferente, num lugar completamente diferente.”
A autora de “Sim”, o último disco de estúdio, gravado em 2007, refere-se ao tema que mais vezes passou nas rádios brasileiras em 2006. Três anos depois, Vanessa ainda recorda com espanto o que aconteceu em Paraty quando, a meio da canção, bradou aos céus, “(...) o que a gente precisa é tomar um banho de chuva, um banho de chuva (...)”. Choveu mesmo. Naquele preciso instante.
“Aquilo foi uma coisa incrível, era uma época de avalanches no Brasil. Nas duas noites em que tocámos o céu esteve cheio de nuvens carregadas, e nós tínhamos uma preocupação: era muito dinheiro investido, 70 pessoas só de filmagem fora a nossa equipa, fora a editora, a cidade estava tomada de assalto por uma gravação que tinha de dar certo. Não podia falhar. Um espectáculo destes acabaria com tudo, porque era aberto, e choveu em ‘Ai, Ai, Ai’. Parou quando a música acabou. Foi um milagre. Não no sentido religioso. Em todos os sentidos, talvez. A natureza estava connosco”.
Bethânia e Ben Harper
Desengane-se aquele que de Vanessa da Mata esperar tiques de entertainer – no sentido mais metódico do termo. Podemos estar perante uma das artistas que mais discos vendeu no Brasil nos últimos anos, mas pé descalço e cabelo ao vento nos concertos são imagens de marca de que a artista não abdica, independentemente do rumo de sucesso pelo qual a sua carreira encarrilhou. Tudo nela parece natural, nu, verdadeiro como o processo que levou à gravação de “Multishow Ao Vivo”, como a chuva que caiu só na música que 'pedia' chuva, como a resposta, em lágrimas, que devolveu à nossa pegunta, “Até que ponto Maria Bethânia foi importante na divulgação do seu trabalho?”
“A Maria Bethânia foi um alívio... foi um alívio. Ela diferencia-se no Brasil: arrisca falar de pessoas novas, de quem ninguém falou ainda. É diferente de muitas pessoas que falam o tempo todo por alguma troca de favor, ou, sei lá, por perceber que os jornalistas estão falando muito bem. Ou porque tem muito público. Para agradar. A Maria Bethânia não. Eu não era conhecida [até 1999, quando Bethânia gravou ‘A Força que Nunca Seca’, canção composta por Vanessa da Mata que deu título ao disco homónimo da irmã de Caetano Veloso gravado no mesmo ano]. Ela arriscou muito em falar do meu trabalho. Foi um alívio porque não tinha ninguém para falar dele, e eu já treinava composições com ela... “, diz Vanessa, para de seguida se interromper.
Refeita, Vanessa, que por esta altura se demora a percorrer com uma pequena colher as paredes da chavéna do seu chá, longos movimentos circulares que há muito já diluiram os grãos de açúcar previamente espalhados em água e ervas, recupera o sorriso quando chegamos a ‘Boa Sorte/Good Luck’, primeiro single do álbum “Sim” gravado em 2007 com o músico norte-americano Ben Harper. Diz ter ouvido vozes, muitas, quando compôs a sua parte, em português, mas de pronto nos descansa, antecipando, em sua defesa, que falava de algo mais simples do que uma mera "doença psicológica". Na verdade, tratava-se do alcance que a música poderia atingir, aqui simbolizado por o que a própria apelidou de “um coro gigante”. Por outras palavras, as de Ben Harper, proferidas assim que o produtor Mário Caldato lhe deu a ouvir a música, “um hit seguro, de que as pessoas não se vão cansar tão cedo”.
Aquilo que fez eco na cabeça da cantautora nascida há 33 anos em Alto Garças, no Mato Grosso, tornou-se real, palpável. Dois anos depois, um single de Vanessa da Mata voltava a ganhar a corrida dos temas mais tocados nas rádios brasileiras. 19.565 vezes, precisa a assessoria de imprensa da artista. Com aquela parceria, a compositora que a voz de Maria Bethânia divulgou em 1999, evitando que, como a própria reconhece, a qualidade do seu trabalho fosse apenas avaliada "pelas tias e pela mãe", centrava definitivamente os holofotes em si enquanto artista completa, com um espaço próprio conquistado no vasto campo da música popular brasileira. A música, classificada pela cantautora como um “ponto de encontro maravilhoso”, permitiu-o. Quando reencontrar o público português amanhã, no Coliseu do Porto, e no dia seguinte actuar no festival Delta Tejo, em Lisboa, Vanessa da Mata, disse-nos, vai tentar dar um espectáculo que provoque uma reacção nas pessoas. “Positiva, se possível”, pede. Não pede muito.