terça-feira, 21 de julho de 2009

Quem quer viajar entre Lagos e Alvor num colchão de brincar?

Não tenho conhecimento de que o Nelas leia blogues. Sei que já teve um, hoje encomendado às traças virtuais, e tenho sérias dúvidas de que leia este. Nem eu o leio. Na pior das hipóteses ficará famoso quando chegarmos ao final desta frase, onde se desvenda que, nele, caucasiano com traços indonésios muito pouco precisos, habita um testículo negro. Só um. Há-de lhe passar. Mas por agora é mesmo assim: um negro, outro branco. Tudo aconteceu nas primeiras aulas que frequentou de kitesurf - modalidade na qual entendeu especializar-se poucos dias antes de fazer 28 anos. Uma queda dolorosa, como se adivinha. De espírito bom, o Nelas faz amigos com facilidade. Amigas também. Por isso, através do seu professor, conheceu uma rapariga que foi parar ao Algarve numa carrinha que conduziu desde a Áustria. Esteve acompanhada por amigas até onde se podia dizer que era França, primeiro; sozinha até Portugal, depois, porque o bicho de quatro rodas avariou.

600 euros de arranjo!, vociferaram-lhe os franceses.

Caro como os perfumes e vestidos e colares e aneis e pulseiras e brincos e sapatos e cintos e bolsas e saias das tias do Rui, pensaram as amigas, e bem, depressa tomando o caminho de volta a casa. Persistente, a austríaca apanhou boleia do reboque até onde se podia dizer que era Alemanha. Aí encontrou um mecânico que arranjou o fusível dorido da carrinha sem encargos. E depois aconselhou-a: "tem cuidado com o trânsito; há sempre gente com o juizo varrido - ainda mais para sul".

Apesar de ter retomado a rota inicial sozinha, a austríaca fez-se acompanhar por uma amiga inglesa quando chegou a Portugal. Não sei como as duas se conheceram, mas o Nelas explicou-me em Alvor que a outra, inglesa, tinha vindo até ali desde Lagos num colchão de praia. O vento aqui sopra sempre de norte, não há problema, explicou-me.

Por ter feito anos durante a semana, festejando-os derrubado na cama depois de ter partilhado demasiadas garrafas de rosé com um cliente na véspera, o Nelas convidou a malta para um sábado na vivenda dele, a partir das 13:30. Menu para curar ressaca: piscina, grelhados, minis e mojitos. No que me toca, tinha marcada uma caracolada com o meu irmão para o final dessa tarde, pelo que apostei na primeira e nos últimos, não necessariamente por esta ordem. A noite anterior fora longa, começando numa prova de vinhos que nos custou três euros e acabando a dispersar de uma discoteca em ladies night logo após dois caramelos terem andando à pancada porque um cortejou a matulona que o outro cercara primeiro. Há um acordo tácito nisto da rapinagem em pista de dança: ninguém ataca a mesma 'presa'. O ar pode ser de todos, mas a matulona é minha, reclama aquele que primeiro se insinuar. Não perguntem.

(Vá, não tenho culpa. Foi há nove ou dez anos. Rsrsrsrsrs. Sete).

A noite que fazia pesar o dia ficou também marcada por um espectáculo de última hora que teve lugar no mui bem afamado Boogie Bar, por engenho de uma agente da autoridade muito magra, morena e feia, com os dentes forçosamente alinhados numa placa verde fluorescente, uma mulher que executava essa fantástica manifestação de flexibilidade que é a espargata com a prontidão de uma stripper, as certezas de um bispo e o entusiasmo de um espermatozóide que descobriu a luz.

Parêntesis: Quinta da Cabaça, Portalegre, 2006 - eis, por consenso, o nosso tinto vencedor. Este, lê-se no site alentejopress.com, "é um vinho irreverente, guloso, com personalidade jurídica, frutado, brincalhão, de cor granada e aroma suave a frutos vermelhos, soberbo, democrata, charmoso, ginasta, advogado, dermatologista, psicólogo, eterno".

Do lado protegido do balcão o meu irmão pedia sensatez. Assentindo, chorávamos de mãos na barriga para não nos desfazermos de riso com as mãos na barriga.

Afinal vem tudo do mesmo lugar, pensei, enquanto a agente da autoridade executava uma espargata a dois tempos, e perfeita teria sido a um só caso ela não tivesse perdido o equilíbrio no momento em que se preparava para levantar a saia e mostrar o rabo magro, triste e só.

Ao morder que nem um bárbaro um pedaço de porco grelhado que disputei a duas ou três vespas que também marcaram presença na festa do Nelas, reparei no tapete novo do court de ténis. Quem também reparou que eu reparei nisso foi o pai do Nelas, a quem tinham enganado algumas dezenas de minutos antes dizendo que os mojitos poderiam sem dúvida substituir água em caso de aperto, de modo que beber quatro de seguida poderia ser a exacta medida da felicidade para aquele que mais sede tivesse. E o pai do Nelas, que naquele momento insista com o filho para que este lhe tirasse uma fotografia junto da Raquel, a quem elogiara sem descanso os contornos do carácter e afins, tinha muita. Isto para dizer que vou avançar com um programa de visitas guiadas em colchões de brincar ao longo da costa algarvia. Num piscar de olhos, visitem o portal http://www.barcoamotoreparameninos.pt/ e saibam tudo sobre este novíssimo nicho de mercado que promete fazer-vos mudar de blogue mais cedo do que tarde.

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