"The only people for me are the mad ones, the ones who are mad to live, mad to talk, mad to be saved, desirous of everything at the same time, the ones who never yawn or say a commonplace thing but burn, burn, burn like fabulous yellow roman candles exploding like spiders across the stars." J. Kerouac
quarta-feira, 7 de janeiro de 2009
A equação dizer-fazer (e embaraços a evitar)
Onze dias depois, Obama falou. Avisou que nada iria dizer, por agora, pois cabia ao [ainda] presidente Bush conduzir a política externa norte-americana, mas que depois de 20 de Janeiro [tomada de posse] «muito teria para dizer sobre este assunto [o extermínio na Faixa de Gaza]».
Sucede que algo me vem coçando, eu ignoro, depois puxa-me pela manga, olho, noto que é um assobio que fala, e aí oiço - tem mesmo de ser: «O Obama está a falar bem. Israel não lhe vai causar o embaraço de ter de marcar uma posição mal seja empossado como Mr. President. Até lá tudo ficará bem: reúnem-se e - magia!-, o fogo passa a fumo. Ele diz que vai dizer porque possivelmente nada terá que fazer, e dizer está melhor; ele que olhe bem onde se foi meter e tenha juízo.»
Chato, o tal assobio tagarela que me vem dizer estas coisas lembrou-me também que outra coisa não poderia ser – o dizer, não o fazer -, e explicou-me em números o porquê disto tudo, o que levou o tempo que quem me conhece ao de leve pode calcular.
«Há duas horas - fez-me ver o assobio que não se calava -, a Agence France-Press (AFP) avançou com o número de 660 mortos palestinianos na Faixa de Gaza, desde que a ofensiva do exército israelita começou, a 27 de Dezembro último. 660 vítimas palestinianas a dividir por 11 dias dá 60 vítimas palestinianas por dia. Como o argumento para justificar o efeito, acenado por Israel, esse Estado legitimíssimo, é a auto-defesa, e o plano passa por despejar mísseis e bombas em alvos de enquadramento militar do Hamas, e sabendo nós que este bando de répteis nunca irá deixar de fazer mira com a sua fisga ao sul de Israel, aqui, e atirar o seu rocket, ali, então a Faixa de Gaza, a região mais densamente povoada do planeta, com uma área de 40/10 quilómetros que acolhe cerca de 1,5 milhões de palestinianos [com a desventura de morar paredes-meias com a malta do Hamas, e suas infra-estruturas], seria resumida a ruína e entulho, sem temperatura, lá para Janeiro de 2076».
Foi aí que olhei por cima do ombro e, taxativo, disparei ao tal assobio empertigado: «Vamos mas é retomar tréguas, separando tarefas: tu continuas atento ao mundo real, e eu alterno-o com sonhos e aventuras. De outro modo enlouqueço de vez.»
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5 comentários:
Se fosse só Gaza...
Tenho um amigo que gosta tanto de Israel que a Telavive. (para forçar um sorriso nesse semblante carregado).
Estou a fazer figas para que o Obama não me desiluda. Acho que é tempo de parar de tratar Israel como um país a quem se tem uma dívida eterna...
goste-se ou não do nobel...
http://caderno.josesaramago.org/2008/12/31/israel/
Não há, de facto, dois pesos e duas medidas neste confronto.
Abraço
Sua definição de Israel foi ótima, mas ainda pretendo estudar um pouco mais sobre o bêbado não convidado. Será que só quem vê de fora pensa que isso tudo é sem sentido?
o homem já mostrou ser capaz de cometer a pior das atrocidades pelos motivos mais sem sentido que nos consigamos lembrar.
importa também procurar o que há de bom: estes mocinhos são da família do bêbado, mas isso não lhes parece ter afectado a lucidez:
http://www.youtube.com/watch?v=_NVsdXH2XTM&feature=related
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