segunda-feira, 9 de março de 2009

Bogotá dos pequeninos


O senhor barbosa não gesticula quando se expressa, mas fá-lo com os olhos muito esbugalhados; talvez por isso force uma atenção dos seus interlocutores que verdadeiramente não está a ter. Fumava ao meu lado, muito, tanto, e notei-lhe a atenção dividida: encaminhava as palavras para mim, que o ladeava, a par do meu irmão, mas concentrava o olhar nos movimentos precipitados de um grupo de quatro mulheres que haviam chegado àquele irish pub há poucos minutos, e se havia aninhado ali junto a nós, o que despertou um sentimento de repentino entusiasmo no outrora entristecido anfitrião do karoke. De coração espaçoso, o carlos é primo do jorge palma, e já teve piada, mas apaixonou-se, de modo que perdeu-a – está ainda no first flush com a companheira, é o paraíso, e teme-se que um dia lhe dedique um tema do joão pedro pais.

Com o empenho dos bons, o senhor barbosa relatava-nos de que modo iniciara a sua manhã de quinta-feira. «Fui levar a minha mulher à escola e eles ainda lá, parados à porta do continente. O comandante da PSP de Portimão disse-me que, no total, chegaram a estar lá 70 polícias». A fonte policial lamentou ao senhor barbosa que, estando devidamente protegidas as saídas pelo terraço, frente e traseiras, os seis encapuzados que assaltaram a ouriveraria do continente, em portimão, se tivessem lembrado de fugir por uma das várias portas de saída que o parque subterrâneo de estacionamento propicia - hipótese que escapou a todos os elementos das forças de autoridade envolvidas, que chegaram a disparar para o ar, atingindo de raspão o bico de uma gaivota distraída.

Juntando-se à conversa, com sinais de evidente desconforto estampados no rosto, após uma noite mais longa, o barman Ricardo vestia o mesmo casaco de ganga que trajara na véspera, e também tinha algo a dizer. Contou ter saído da Praia da Rocha «às 07h, todo de lado», e, a caminho de casa, ter reparado num «aparato descomunal» junto ao continente, com ruas fechadas e um polícia em cada buraco. O Ricardo confidenciou-nos o quanto achou por bem, no momento, travar o carro junto de um polícia e perguntar-lhe que raio se passava.

«Não posso dizer, isto é um assalto», ouviu de resposta, enquanto se aproximava da zona vedada, em marcha lenta, logo pedindo licença a um outro agente para lhe deixar passar rumo ao epicentro dos eventos. «Faça favor, colega», ouviu o Ricardo, agradecendo por entre soluços e ameaças aziagas de um sempre inoportuno vómito.

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