A tão aguardada estreia do inglês Nathan Fake em Portugal, na discoteca Lux, em Lisboa, teve momentos de absoluta comoção. Um final precoce, também. Cerca de 80 minutos de actuação soou a pouco para muitos dançarinos. Less is more, sentiram outros. O saldo pede mais.
Uma rápida pesquisa no YouTube pela faixa ‘Long Sunny’, do primeiro trabalho de fôlego de Nathan Fake, Drowning in a Sea of Love, de 2006 (8.4/10 pela Pitchfork), leva-nos a um vídeo amador onde se poder ler um comentário publicado em inglês. Tradução: «Esta canção lembra-me a primeira vez que matei alguém».
Não é caso para tanto. Os instintos que na madrugada de sexta-feira se enraizaram nos pés dançantes da Lux – semi-vestida durante a hora e vinte minutos que durou o live act do prodígio de Norfolk, Inglaterra – ficaram-se, quando muito, por um estado inócuo.
Há uma dimensão vertiginosa nas composições de Nathan. Aos 25 anos, recusa ser rotulado de DJ, e percebeu-se com que autoridade. Alguma crítica especializada acusa-o de actuações para dentro, desfasadamente experimentais, de esquecer as pessoas.
Pista rendida
Pouco disso, porém, se viu no piso inferior da Lux. No primeiro minuto de actuação já Nathan Fake mostrava ao que vinha, arrasando a pista com minimais linhas de percussão e de synth, entrecruzadas, em muitos casos, pelo elemento humano: samples vocais. Mosaicos acriançados, desfeitos; de olhos fechados, celebrou-se na Lux um febril adeus à juventude.
Protegido do príncipe do minimal, James Holden, por cuja editora gravou o primeiro longa-duração, e verá chegar aos escaparates o segundo, Hard Islands, em Maio, Nathan, que nasceu e cresceu a leste do fervilhar electrónico de Inglaterra, longe da agitação, faz música idealista, de olhar positivo, quase ingénuo, estancado no horizonte, desenhando paisagens verdejantes, intermináveis, a fugir da cidade.
Pontos altos da madrugada, ‘You are Here’ (Drowning in a Sea of Love), de uma pacífica percussão à triunfal tempestade eléctrica das teclas Casio, e ‘Underburg’ (EP Watlington Street, 2004), onde se trilha os caminhos do house progressivo, são faixas com algo de primitivo – e, por isso, de fuga.
A actuação de Nathan Fake na sala de Santa Apolónia teve o mérito acrescido de ter escapado a momentos bocejantes, mesmo desdenhando o muito pedido single de 2004, ‘The Sky was Pink’. No final, insaciável, o público pediu o que não teve: mais.
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