Festejava-se o 25 de Abril num bar tipicamente algarvio, o Ireland’s Eye, seriam umas 02:00, quando chegou o S., acabado de acordar, para o encore, depois de a todos se ter adiantado, logo pela tarde, e sozinho começar os festejos, ou aliás na companhia de uma garrafa de Jameson. Poucos como o S. levarão tanto à letra a ideia de se ser livre, e portanto domar plenamente o eu. O dos outros, também. E assim foi que me puxou o braço para um breve monólogo quando o T., que esmurrara de satisfação o balcão até sangrar feliz de dois ossinhos assim que o DJ lançou os “Contentores”, foi chamado ao palco, sentando-se virado para as costas de uma cadeira e daí zurrar fado para merecer as atenções de uma senhora que ali cantara Charles Aznavour há umas semanas. Repetia ontem a presença, ela, sem dúvida pela liberdade, mas sem a cantoria. “Andei eu a comer uma guia de 300 quilos para isto”, queixava-se em horário de pequeno almoço o S., sem especificar demasiado. Quem não percebia muito bem o seu lugar naquilo tudo era a L., habitual farol das nossas noites cantadas no Boogie - outro estabelecimento boémio de contornos absolutamente algarvios na zona - e arredores, e naquela noite lamentavelmente relegada à discrição de uma mesa lateral, escura, onde não chegava o cabo de qualquer microfone através do qual se pudesse fazer a revolução. Quando não está a cantar a L. fala muito baixinho, talvez por saber, e respira fundo, que só temos ouvidos para ela, mas aquele Mestre de Cerimónias não parecia querer fazer dela o farol do karaoke dos outros, pelo que, sem cantar, a L. fazia ouvir o seu descontentamento como poucas vezes já o presenciáramos. Algo de significativo, percebia-se. Estaria tudo resolvido, porém, logo depois de a L. virar para o estômago, com movimentos de pescoço pendulares, muito rápidos, uma pequena substância espirituosa, servida uma e outra vez. Espécie de encantamento. Por esta altura, certo das minhas responsabilidades na A2, duas manhãs de domingo por mês, deixei a revolução na Praia da Rocha no rasto do casal que ali entoou de mãos dadas a canção “Depois de Ti”, composta e interpretada pelo lendário Tony Carreira, com Y a seguir ao Ton. Tema, aliás, poucas pessoas o sabem, que constituiu uma terceira senha na marcha que derrubou a ditadura, além das mais comerciais ‘Grândola Vila Morena’, do Zeca Afonso, e ‘Depois do Amor’, onde o Paulo de Carvalho podia disfaçar melhor as influências que levaram à escolha do título. Tudo, claro, para quem conhece a que ritmo batem os corações dos capitães de Abril, segundo as românticas coordenadas 'Foi um Amor Proibido/Como tanta gente tem/Eu já tinha alguém/Eu já tinha alguém'. Já em casa, cheio, sintonizei o meu rádio imaginário na canção que se segue, e com ela adormeci; exemplo, aliás, que muitos pais deveriam seguir, e a preceito ajudarem a adormecer as criancinhas, em vez de as assustar com histórias sobre lobos maus.
3 comentários:
andei 21 anos aler o horóscopo de carneiro sim, mas veio um sr astrólogo dizer que afinal sou touro, por causa das luas e afins dessedia, desse mes, desse ano. que sou carneiro e sou touro e uma grande lengalenga.
nunca mais li nada.
ser carnoura. ou toureira podia até ter graça.
e escrever tanta parvoíce num post de 25 de abril é coisa de carnoura ou toureira parva.
mas perdi-me a cantarolar o depois de ti.
é msm, ainda que não tenha encontrado até hoje o sr astrologo pra lhe perguntar se a lua desse dia e mes e ano estava bem disposta. soa bem, carnouro. melhor que toureiro. e que carneiro.
estas a crescer ruizinho!!!
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