João Bénard da Costa
1935 - 2009
Há quem se sirva da primeira gaveta da mesa de cabeceira para lá colocar a respectiva roupa interior. Na minha encontro bilhetes de metro e folhas-de-sala escritas pelo João Bénard da Costa, que trago para casa quando vou à Cinemateca. Sinto que devem estar à distância de um braço - não me vá dar insónias. Tenho uma delas aqui à mão. A dada altura, sobre o filme Les Dames Du Bois De Boulogne (Bresson, 1945), lê-se: “Mas há algo que ela não consegue dominar, algo que, no filme, é traduzido pela cascata, pelo papel branco das cartas, pelas notas dos teclados do piano. Algo onde reside exactamente esse amor que não necessita de provas, e que triunfará na cena final entre Jean e Agnès”. No último ciclo do Bénard, a quem tantos de nós deve incontáveis horas de filmes maravilhosos - aos quais, de outro modo, dificilmente chegaríamos -, e tudo o que por isso aprendemos sobre este jogo de sombras a que chegámos sem pedir, prevalece a mais admirável das provas de amor que alguém ou algo, neste caso o cinema, poderá receber: uma vida de dedicação.
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