Vou com alguma frequência jantar ao Esperança, restaurante italiano na rua do Norte, Bairro Alto, Céu. Ontem taberna e mercearia, hoje espaço de comes e bebes avant-garde com decoração moderna e algum aproveitamento dos materiais originais. A comida, o que no fundo ali interessa, é imperdível e em doses bem aviadas. Através dos empregados já tive a oportunidade de desejar felicidade eterna aos cozinheiros. Lamento que a carta de vinhos seja fraquita. As luzes estão sempre baixas, conferindo uma pinta de bar. Ouve-se jazz vivo, da fúria alegre de uma orquestra de melros, do bom, não aquela trampa sonolenta de hotel. Os preços só abusam um bocado (refeição completa dificilmente por menos de 20 euros). Servem até ao dia seguinte. Está sempre cheio. Aconselha-se reserva.
Naquele anoitecer acima de 30 graus sentia-me dominado por apetites de comer na rua e o meu amigo P. apoiou a ideia. O P. é o advogado mais fixe que alguma vez deverei conhecer. Ultimamente anda a esforçar-se mais por combater a inércia. Está mais disponível para conhecer. O P. é gente boa.
Uma empregada brasileira que se esforçava por não se fazer entender no sotaque dela indicou-nos a última das mesas lá fora, mesmo em frente a uma janela com vista para o forno. Vimos a confecção das pizzas que iríamos comer. “Tá-se bem no Algarve”, dizia eu, que digo sempre isso quando se está bem onde quer que seja.
À boleia de um branco menos fresco do que o suposto vimos duas moças altas e pálidas passar por nós e parar mais à frente, ao pé da entrada principal do Esperança. Observaram o que tinham a observar, trocaram impressões et voilà!, chamaram uma empregada. Era mesmo ali que queriam comer. E cá fora. Lesta, a empregada brasileira do sotaque escondido olhou de pronto na nossa direcção – havia por ali uma mesinha vaga - e em menos de nada já elas estavam a sentar-se junto de nós com sorrisos encavacados de “olá!, podemos?”. Claro que podem.
Ainda demorei uns dez minutos a imbuir-me do espírito de local-que-gosta-de-fazer-turista-sentir-se-bem. Um ou dois bitaites e começámos a conhecer-nos. Eram suíças. Zurique. Ao meu lado a Barbara, estudante de Economia, loira, pernas de jogadora de voleibol, cabelo dourado potencialmente ganhador de concursos, a mais atraente, 22 anos; ao lado do P. a Eva, estudante de qualquer coisa, conhecedora de 1001 jogos de quizz, espertíssima, ruiva, a mais simpática, 23 anos.
Barbara e Eva, nomes bonitos.
Estavam cá de férias há alguns dias - “ohh we love Portugal!”- mas faziam beicinho por ainda não terem ido a banhos. Compreendi a situação. Grandes traumas já nasceram por menos. Por isso mesmo aconselhámos-lhes a reverter a respectiva sorte, atacando alguma praia no dia seguinte - o calor, frisámos, iria ficar ainda mais absurdo do que já estava.
“Well we heard about Costa da Caparica and Cascais. We’ll probably go there. Is Cascais good?”
Dissemos que sim, Cascais era good, tendo porém praias iguais a tantas outras às quais elas certamente já teriam ido, e, muito pior, trâaaaaansito, stresssssssss, arghhhhhhhhhh. Falámos do Portinho da Arrábida, onde tinhamos passado uma belíssima tarde na véspera, de como integra serra e costa, de como o passeio até lá faz a diferença, de como interessa dar de fuga da cidade e regressar ao pôr-do-sol. Depois interrompi a bajulação do Portinho e declarei: “Eis o que vai acontecer: vocês vão ficar connosco e amanhã levamo-vos lá.”
A Suiça afinal não acaba na raquete do Federer |
Entre tanto |
"We just to have to walk a little bit, hum?" |
Cabelo de ganhar concursos |
Naaa, Carcavelos é que é muita bom |
13 comentários:
O Portinho é do melhor ;)
(com suiçãs não sei, que nunca experimentei...)
***
gostava de ser como voces. sou péssima a fazer sentir bem os estrangeiros. estou sempre a tropeçar neles, mas depois espanto-os. fico tão atrapalhada e baralho o inglês todo...
descobri recentemente que o meu vizinho de cima é estrangeiro. fui lá bater à porta para avisar que o sr do condominio ia ver os tubos das varandas e o rapaz interrompe-me para dizer que nao percebe nada do que eu estava para ali a dizer com um "do you speak english?". fiquei toda atrapalhada, mas com metade gestos metade inglês ele lá percebeu o recado. segue-se um "i've never seen you around. may i offer you a coffee?". ao que a tótó da ana responde "no, i just came to talk about the water problems" e foi embora. claro que nem me lembrei de perguntar o nome ou a nacionalidade.
Então era isso que fazias no Portinho da Arrábida, no fim de semana.
Bem melhor que Marrocos!
cat: com suiças é bom mas as portuguesas são mais divertidas ;)
ana: para a próxima bebe esse café, deixa o rapaz retribuir a gentileza, vê onde a coisa vai dar - podes sempre ficar surpreendida pela positiva. Na pior das hipóteses dizes que tens a comida ao fogo e ala que se faz tarde!
huguinho: tá-se bem no algarve my friend ()
Confesso que fiquei curiosa por saber o que fizeram depois ;)
Inês
e em estado normal, era o que faria. mas o meu cerebro entra em curto circuito qdo percebe que é para falar em inglês. nem parece que há alguns anitos tive de escrever e defender a minha tese em inglês... se bem que lá fora eu sou a primeira a arriscar falar a lingua local, o que é um contra-senso.
mas parece que o rapaz não levou a mal, apesar de ter sido extremamente mal educada. deve ter percebido a atrapalhação. até deixou um bilhete bem simpático na minha caixa do correio.
Afinal, não é a toa que somos considerados um Povo simpático e hospitaleiro :)
sou grande fã da figueirinha. a água é fria pa caraças mas a vista compensa de longe.
suspiro...*
Pah, para a próxima convida-me para uns conbíbios desses. Estrangeiras é a minha praia, faço-as sentirem-se em casa em poucos minutos :)
Tamanha gentileza irá fazer o Zezé corar de vergonha por incompetência.
PS. Li os comentários e não posso deixar de dizer: Ana, vamos sempre a tempo! :)
Um beijo **
eu sei que sim, Di :) a ver se me cruzo com ele nas escadas e peço desculpa por ter dado aquela resposta. isto sem deixar cair o saco do supermercado dos pacotes de leite nos pés dele ou sem me sair outra resposta do mesmo genero...
ahhhhh e viva o anfitrião! Viva o espírito encalorado do verão onde os sangue ferve e os ânimos se aquecem!
Sabes muitooo Sr. Rui! já vi que aquele teu famoso amigo do Algarve te ensinou direitinho a lição do "put de creammm on maiii béck" ahhahaha
É isso mesmo..o verão é lindo!
:*
Uma palavra: Tróia! Experimenta ;)
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