Bonifácio: A música dos BCH (Belle Chase Hotel) parecia querer fugir deste lugar. Não lhe assentava bem a identidade portuguesa?
JP Simões: Na altura queria ser outra coisa, sim. Que não era incompatível com ser português. Uma das nossas características é transmutarmo-nos. Talvez por ser inóspito ser português. É iminentemente portuguesa a vontade de ser outro. Portanto, estava a ser extremamente português (...)
Uma amiga minha diz que o João Bonifácio “saiu da BD para a vida real”. Presumo que ele não gostasse de saber que a vida real não é a da BD. Eu não gostaria, se estivesse nos pés do Bonifácio. Apercebi-me que ele existia na mesma noite que o JP Simões. O primeiro entrevistava o segundo, na edição de 29 de Setembro de 2006 do Ípsilon, que então era Y, e eu lia tudo muito atentamente na sala de espera do Hospital de São José, madrugada dentro, à espera que alguém me tirasse o termómetro debaixo do braço. Demorou essa espera o tempo que costuma demorar. Depois chegou o médico; enfiou a mão pela gola da minha sweat, retirou-me o aparelho do quentinho, observou-o, mudou de cor, abriu muitos os olhos e regressou seráfico de onde viera sorridente. Mais preocupado com o que tinha entre as mãos, desviei o suor febril dos olhos e então dei conta da grande novidade: nunca tinha lido a lingua portuguesa daquela forma, tão bem tratada. Guardei a entrevista e passei a segui-los de perto. Lia um, ouvia o outro. Hoje percebo o quanto cheguei tarde aos dois. E também mantenho que o cabecinha da lusofonia continua a ser quem há muito já era.
2 comentários:
não desfazendo os teus maravilhosos posts, acrescento: bonifácio é o unico que me encanta a ler sobre musica, mesmo quando não faço ideia do que está a falar
Por que nao:)
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